Labirintos Mentais

Penso, logo existo!

Belissimo Texto sobre o Caso de Eloá

Pow!

Sei que todos já devem estar cansados de tanta reportagem sobre o trágico caso da garota Eloá, mas resolvi compartilhar esse texto devido a grandeza que autora o usou para ilustrar os vários NÃOS que recebemos na vida e por ter contexto com a atmosfera do blog.

Minha opinião sobre o caso? Bom, não vou julgar a atitude do rapaz (isso não quer dizer que eu concorde!), afinal de contas quem nunca sofreu por amor (se bem que isso pra mim não é amor, pois que eu saiba amor não mata...) e ciúmes? Claro que não justifica a atitude imatura, mas pra mim os principais culpados nesse triste caso foram a policia e a mídia.

Chegar de falar nisso, a mídia já alardeou demais... vamos a texto!
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Criando um Monstro

O que pode criar um monstro? O que leva um rapaz de 22 anos a estragar a própria vida e a vida de outras duas jovens por... Nada?

Será que é índole? Talvez, a mídia? A influência da televisão? A situação social da violência? Traumas? Raiva contida? Deficiência social ou mental? Permissividade da sociedade?

O que faz alguém achar que pode comprar armas de fogo, entrar na casa de uma família, fazer reféns, assustar e desalojar vizinhos, ocupar a polícia por mais de 100 horas e atirar em duas pessoas inocentes?

O rapaz deu a resposta: 'ela não quis falar comigo'. A garota disse não, não quero mais falar com você.

E o garoto, dizendo que ama, não aceitou um não. Seu desejo era mais importante.

Não quero ser mais um desses psicólogos de araque que infestam os
programas vespertinos de televisão, que explicam tudo de maneira muito simplista e falam descontextualizadamente sobre a vida dos outros sem serem chamados.
Mas ontem, enquanto não conseguia dormir pensando nesse absurdo todo, pensei que o não da menina Eloá foi o único. Faltaram muitos outros nãos nessa história toda.

Faltou um pai e uma mãe dizerem que a filha de 12 anos NÃO podia namorar um rapaz de 19.

Faltou uma outra mãe dizer que NÃO iria sucumbir ao medo e ir lá tirar o filho do tal apartamento a puxões de orelha.
Faltou outros pais dizerem que NÃO iriam atender ao pedido de um policial maluco de deixar a filha voltar para o cativeiro de onde, com sorte, já tinha escapado com vida.
Faltou a polícia dizer NÃO ao próprio planejamento errôneo de mandar a garota de volta pra lá.
Faltou o governo dizer NÃO ao sensacionalismo da imprensa em torno do caso, que permitiu que o tal sequestrador converssasse e chorasse compulsivamente em todos os programas de TV que o procuraram.

Simples assim. NÃO. Pelo jeito, a única que disse não nessa história foi punida com uma bala na cabeça.

O mundo está carente de nãos.

Vejo que cada vez mais os pais e professores morrem de medo de dizer não às crianças.
Mulheres ainda têm medo de dizer não aos maridos ( e alguns maridos, temem dizer não às esposas ).
Pessoas têm medo de dizer não aos amigos.

Noras que não conseguem dizer não às sogras.
Chefes que não dizem não aos subordinados.
Gente que não consegue dizer não aos próprios desejos.
E assim são criados alguns monstros.
Talvez alguns não cheguem a sequestrar pessoas. Mas têm pequenos surtos quando escutam um não, seja do guarda de trânsito, do chefe, do professor, da namorada, do gerente do banco. Essas pessoas acabam crendo que abusar é normal. E é legal.

Os pais dizem, 'não posso traumatizar meu filho'. E não é raro eu ver alguns tomando tapas de bebês com 1 ou 2 anos.

Outros gastam o que não têm em brinquedos todos os dias e festas de aniversário faraônicas para suas crias.
Sem falar nos adolescentes. Hoje em dia, é difícil ouvir alguém dizer:
Não, você não pode bater no seu amiguinho.
Não, você não vai assistir a uma novela feita para adultos.
Não, você não vai fumar maconha enquanto for contra a lei.
Não, você não vai passar a madrugada na rua.
Não, você não vai dirigir sem carteira de habilitação.
Não, você não vai beber uma cervejinha enquanto não fizer 18 anos.
Não, essas pessoas não são companhias pra você.
Não, hoje você não vai ganhar brinquedo ou comer salgadinho e chocolate.
Não, aqui não é lugar para você ficar.
Não, você não vai faltar na escola sem estar doente.
Não, essa conversa não é pra você se meter.
Não, com isto você não vai brincar.
Não, hoje você está de castigo e não vai brincar no parque.

Crianças e adolescentes que crescem sem ouvir bons, justos e firmes NÃOS crescem sem saber que o mundo não é só deles. E aí, no primeiro não que a vida dá ( e a vida dá muitos ) surtam. Usam drogas. Compram armas. Transam sem camisinha. Batem em professores. Furam o pneu do carro do chefe. Chutam mendigos e prostitutas na rua. E daí por diante.

Não estou defendendo a volta da educação rígida e sem diálogo, pelo contrário. Acredito piamente que crianças e adolescentes tratados com um amor real, sem culpa, tranquilo e livre, conseguem perfeitamente entender uma sanção do pai ou da mãe, um tapa, um castigo, um não. Intuem que o amor dos adultos pelas crianças não é só prazer - é também responsabilidade. E quem ouve uns nãos de vez em quando também aprende a dizê-los quando é preciso. Acaba aprendendo que é importante dizer não a algumas pessoas que tentam abusar de nós de diversas maneiras, com respeito e firmeza, mesmo que sejam pessoas que nos amem. O não protege, ensina e prepara.

Por mais que seja difícil, eu tento dizer não aos seres humanos que cruzam o meu caminho quando acredito que é hora - e tento respeitar também os nãos que recebo. Nem sempre consigo, mas tento. Acredito que é aí que está a verdadeira prova de amor. E é também aí que está a solução para a violência cada vez mais desmedida e absurda dos nossos dias.

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Obrigado Adi, pelo e-mail, e concordo com você, talvez monstro não seja a palavra mais correta.

Autoria: Karina Cabral
Imagem: cena do filme Onde os Fracos Não Tem Vez.

4 comentários:

Anônimo 30 de outubro de 2008 às 10:31  

Só um lembrete: Não são os chefes que não dizem 'não' aos subordinados. são os subordinados que não sabem dizer 'não' aos seus chefes.

Mas enfim...dessa vez não vou dizer que esse NÃO foi um belíssimo texto.

Parabéns! :-)

Anônimo 30 de outubro de 2008 às 12:17  

Olá!
Meu nome é Adriana e quem escreveu este texto maravilhoso foi minha amiga, Karina Cabral. A autoria aí está errada.
Você pode conferir o original em www.mafaldacrescida.com.br, e pela data, você vai ver que tenho razão - foi escrito logo em seguida à morte de Eloá.
Peço que corrija a autoria, ok?
Obrigada!

JNeto 30 de outubro de 2008 às 12:18  

Eita Neto, acho que você está sendo a única pessoa que ler esse blog... rs. Ô povo que não gosta de comentar, acho que vou fazer uma campanha:

Faça um blogueiro feliz, comente!

[]'s

Ah... sobre o Sr. Perfeito que comentei no post anterior, vou deixar quieto, até criei o post do meu jeito, mas tô falando sobre a perda de uma amizade. Acho melhor buscar outras soluções.

JNeto 30 de outubro de 2008 às 14:00  

Saudações Adriana, muito obrigado pela informação. Claro que a autoria já foi corrigida. É muito chato ter o maior trabalho pra tecer um texto e dar autoria a alguém.

Desculpa o erro, mas foi assim que recebi por e-mail.

[]'s

P.S.: O blog Malfada Crescida é seu?

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