Labirintos Mentais

Penso, logo existo!

Dia dos Pais 2008 - Reflexão

Eu e o meu pequeno nos primeiros meses de vida dele.


Muita ênfase se faz no dia das mães, comerciais pipocam a todo instante na televisão, restaurantes recebem reservas, as mães se preparam para os presentes e o comércio para os lucros. Mas também não é pra menos, é o dia da nossa genitora, é o dia de quem nos colocou no mundo, quem nos deu carinho, atenção e educação. Correto? Nem sempre. Nem todas as mães são iguais, assim como nem todos os pais também são. A natureza da mulher é ser mãe, isso é fato, porém existem mulheres que não nasceram pra ser mãe. Não falo do sentido biológico-físico, mas sim no amadurecimento mental e espiritual. Do mesmo modo, existem homens que não nasceram para ser pai. Não falo no macho, no fecundador, e sim naqueles que cumprem o seu papel de pai como educador e amigo.


Então, o que falar daqueles que são realmente pais? Aqueles pais que também são mães nos momentos necessários? Sei que esses são minorias mas, ainda sim, existem . Conheço alguns, inclusive posso me incluir nesse pequeno e feliz grupo. Concordo que nunca um pai vá substituir uma mãe, são diferentes, em suas brincadeiras, carinhos e conversas, porém ambos se completam. Não quero criar discussões sobre os sexos, não é esse o propósito deste artigo. O propósito aqui é fazer entender uma figura que muitas vezes passa despercebida em nossa vida e só nos damos conta quando se vai. Nossos genitores.

Confesso que demorei muito tempo pra compreender o meu pai, necessariamente 23 anos quando também me tornei um e comecei a me enxergar como filho. Meus pais são separados desde que eu tinha um ano de idade e sempre julguei meu pai nos momentos em que precisei dele e não estava ao meu lado. As poucas lembranças que tenho do meu pai na minha infância, são dos passeios em que ele me levava aos lugares que ele gostava. Não me lembro de ter ido a um parque, praça, shopping, zoológico, andar de mãos dadas com ele, nada disso. Mas isso não fez dele um mal pai, era o jeito dele, talvez um reflexo de sua criação.

Meu pai precisou nos meu primeiros anos de minha vida trabalhar fora, as coisas aqui, apesar da aparente felicidade, não o levaria a lugar algum. Assim como uma grande maioria de nordestinos, foi tentar a sorte em São Paulo. Pra sorte dele e a de toda família, deu certo. Digo sorte porque meu pai só concluiu até a 5ª série e muito provavelmente forçado. Eu era muito pequeno pra entender tudo e tenho poucas lembranças das vezes em que ele vinha me visitar e me levava para seus passeios: feira de animais e sebo atrás de LPs antigos, principalmente os de forró (sua paixão), lembro ainda das capas dos LPs: Trio Nordestino, Nando Cordel, Jorge de Altinho, entre outros. Esses eram meus momentos com ele.

Ás vezes nós nos falávamos por telefone, mas telefone era outra coisa complicada na época, poucos e caros, não existia essa facilidade atual. Celular? Nos anos 80s ,isso ainda não existia no Brasil, o uso de fichas telefônicas era o que tinha de melhor. Internet? Nem existia isso, era coisa pra americano e seus nerds universitários. Messengers? Redes de Relacionamento? Era utopia. E sabe o que eu fazia quando falava com ele? Pedia algo. - Pai compra isso, compra aquilo. Coisas de criança que meu filho repete da mesmo forma comigo.

Meu pai passou vários anos em São Paulo e conseguiu, com sua humildade e simplicidade acima de tudo, fazer o seu pé-de-meia. Casou novamente, teve uma filha, conseguiu comprar casas, sítios, carros, cavalos e bois aqui no Nordeste. Tinha uma vida confortável mas, não tava feliz, vivia em uma selva de pedras que não lhe pertencia. Sua paixão era o Nordeste e sua cultura. Mas como qualquer ser humano com personalidade própria, ele cansou de não ser o seu próprio eu. Meu pai precisava viver, ser ele mesmo, e decidiu que voltaria por Nordeste e realizaria seu sonho: morar em um sitio. Fez o que poucos, hoje em dia, tem coragem pra fazer: pediu demissão, abandonou tudo e foi viver sua vida.

Confesso que no primeiro momento me perguntei por que simplesmente meu pai não esperou se aposentar pra vir mais sossegado. Mas hoje em dia eu o admiro e penso comigo mesmo - a vida é tão efêmera que creio que todo ser humano, uma hora ou outra, acaba por se perguntar sobre sua passagem nesse mundo. Meu pai teve atitude e coragem. Resolveu viver. Claro que tudo tem seu preço, e as vezes caro, ele teve que enfrentar a família, abandonar a esposa e filha - minhã irmã que talvez se revolte com tudo isso e não compreenda, porém uma dia talvez ela seja mãe e enxergue as coisas de outra forma. É como fala na música Pais e Filhos de Legião Urbana: "Você culpa seus pais por tudo, isso é um absurdo. São crianças como você. É o que você vai ser, quando você crescer."

Ele ainda tentou realizar seu grande sonho morando em um sitio, mas a violência do nosso mundo o fez acordar e o forçou a sair do lugar. Atualmente meu pai mora num interior aqui de Pernambuco, casado e creio que feliz com suas escolhas. Nos vemos com mais freqüência agora, procuro ter mais contato na intenção de querer conhecê-lo e fazer com que me conheça também. Tenha a consciência que nunca vou resgatar o passado, mas tenho como agendar meu futuro.

Hoje em dia tenho uma visão muito diferente de tudo que ocorreu, minha cabeça já não é mais a mesma. Me tornei um homem, sou pai e tenho tentado me descobrir como filho. Não consigo falar que o amo, pois existe a burrice adulta que impede que nós filhos diga eu te amo para nossos pais, mas o reconheço como pai, com admiração e respeito.


Pai, obrigado por tudo.

JNeto - Pai e, agora também, filho.

11 comentários:

Mônica Mislene 8 de agosto de 2008 às 09:03  

Nossa! Impossível não se emocionar com este depoimento. Poderia até citar minha experiência, mas acho mesmo necessário afirma: que sorte tem tem seu filho! E sugerir, embora ache q vc ja conheça, mas tem uma musica q se encaixa perfeitamente pra pais dedicados como nós. cante-a pro seu bebê ele vai gostar:
O Caderno
Chico Buarque
Composição: Toquinho/Mutinho

Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco até o bê-a-bá
Em todos os desenhos
Coloridos vou estar
A casa, a montanha, duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel

Sou eu que vou ser seu colega
Seus problemas ajudar a resolver
Sofrer também nas provas bimestrais
Junto a você
Serei sempre seu confidente fiel
Se seu pranto molhar meu papel

Sou eu que vou ser seu amigo
Vou lhe dar abrigo
Se você quiser
Quando surgirem seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel

O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado
Se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente
O que se há de fazer

Só peço a você um favor
Se puder
Não me esqueça num canto qualquer



FELIZ DIA DOS PAIS!

Drika 8 de agosto de 2008 às 13:37  

Lindoo!!!

Me emocionei muito com seu post, e me identifiquei bastante, parabéns pelo Pai maravilhoso que vc é, e parabéns por estar tentando ser um bom filho também.

Lembro apenas uma coisa, nós filhos não devemos ter vergonha de dizer EU TE AMO a nossos pais, um dia vc vai querer dizer e ele não vai mais estar aqui pra escutar, falo por experiência própria, sei que meu pai sabia o quanto eu o amava, mais me arrependo amargamente por não ter dito isso a ele no último dia de sua vida, exatamente um dia dos pais.

Bjs :)

Manu 8 de agosto de 2008 às 19:34  

Gostei do texto... Gostei principalmente do "Pai e, agora também, filho."
O usual seria o contrário, pois a gente é filho antes de ser pai. Então, a frase me fez pensar e foi bem reflexiva.
E vc se expôs, o que mostra coragem! Mas aconselho cautela, ok? Afinal, isto aqui é internet...
No mais, siga assim: um blog dos seus pensamentos e das coisas que vc acha interessante!!!

Unknown 12 de agosto de 2008 às 07:00  

Agora sim eu sei que a família toda tem o dom da escrita.E eu que pensava que so eu tinha puxado a mainha...JHSKJCSHFJHASKFAKF.
Ficou foda mesmo u.u eu amo voce.

FLORA 13 de agosto de 2008 às 08:16  

Tinho!!! Ficou muito bom o seu texto, homem! Puxa, pena que o mano não teve acesso. Se tivesse lido ontem, teria chamado-o aqui, para ler. Vou ver se ele ainda vem aqui antes de ir embora. Injusto o pai não ler. Quem sabe Fernandinha também não leia!
Obrigada, viu? Um beijo bem grande e que o Pai do Céu faça de você sempre um pai responsável e um filho reconhecido das limitações humanas. Beijo. Te amo.
Tia Kei

superotima 14 de agosto de 2008 às 20:09  

Joãozinho, amei a reflexão "Dia dos Pais". Parabéns pelo Homem e PELO Pai que se desenvolve em você.
Você não somente soube expressar bem com palavras como também suas idéias nasceram do Homem e Pai que você é por vocação.
Nem todos os homens possuem vocação para ser Homem e nem todos os pais para ser Pai.
O mesmo se aplica às mulheres.
Somente para acrescentar um pouco ás suas idéias, quero dizer que:
1)Se as mães são mais homenageadas não é porque elas são mais importantes do que os pais.
Talvez a nossa cultura primordial tivesse elevado a importãncia da figura materna para facilitar ao homem a possibilidade de fuga para a rua(prazeres fora de casa).Uma justificativa para o macho se divertir já que ele era um espécie de galo. Então coube a mulher o papel de boazinha que não erra e ao homem de infiel que erra. Penso que ter o direito de errar ou não carregar cruzes sozinha seja algo humano e mais justo.

2)Uma mãe por melhor que seja não pode suprir a falta da presença paterna. Eu sei disso porque luto quase sozinha para educar e sustentar meu filho. Seria bem melhor se eu e meu filho pudéssemos contar com a força da ajuda paterna.
3) O Homem, o Pai são muito importantes porque possuem visão e aptidões diferentes de mulheres. essas diferenças quando se complementam preenchem todas as lacunas.

4) Sou favorável inteiramente a receber ajuda do Homem naquilo que não é minha capacidade. Dividir esforços é o ideal. Tudo fica mais fácil!
Aqui quero abraçar sua família e nesse abraço um especial para Gabriel.

Adilene

JNeto 15 de agosto de 2008 às 05:05  

Muito obrigado à todos pelos comentários. Fico feliz com as criticas, sugestões e elogios recebidos.

Paz, Sáude e Sucesso.

JNeto

Anônimo 27 de agosto de 2008 às 18:49  

Rapaz sei nem o que comentar... pôxa... apenas posso dizer q fiquei de lágrimas nos olhos.
E feliz em ver o seu amadurecimento, mesmo não tendo convivido contigo mas percebo q teu crescimento tá sendo pra melhor.
Parabéns e continue assim.
Bjs no coração.

Anônimo 8 de setembro de 2008 às 03:28  

Gente aki é a irmã dele...
Maninhoo confeço q sou durona por fora
mas por dentro sou uma manteiga derretida
conforme fui lendo seu post
pareçia q estava passando um filme...
o filme da minha vida!!
Confeço q me revoltei sim
fikei mtu rebelde...

até hj não comprendi a decisão do Nosso pai!!
Mas espero q ele esteje mtu feliz!!

Chorei e me emocionei bastante

ti amuu maninhoo

Fernanda 16 anoss

JNeto 8 de setembro de 2008 às 08:41  

Oi Nanda. Fico feliz que tenha gostado e até mesmo compreendido o que está escrito.
Confesso que fiquei um pouco preocupado com o que vc acharia quando publiquei esse post.
Sei lá.. vc estava muito chateada com NOSSO pai e isso de certa forma me preocupava.
Mas vi que vc mudou (ainda bem!) está ficando cada dia mais linda fisicamente e sua mente tem acompanhado essas transformações.

Apesar da distância e do pouco contato, TB TE AMO.

Anônimo 15 de novembro de 2008 às 09:58  

Simplesmente excelente!

Parabéns!

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